terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Formação da Terra e os Períodos de Formação


Formação da Terra e os Períodos de Formação
             Estima-se que a Terra foi formada há aproximadamente 5 bilhões de anos a partir de uma nuvem de poeira e gases à deriva no espaço (nebulosa solar). Os minerais densos afundaram, concentrando-se no centro, e os mais leves formaram uma fina crosta rochosa. Existem poucas evidências para nos contar como o clima mudou em cerca de 90% do tempo de vida da Terra. Nós não sabemos aonde os oceanos e continentes estavam, ou quais eram precisamente os constituintes da atmosfera.
            As primeiras rochas sedimentares foram depositadas há aproximadamente 3.700 milhões de anos na Era Pré-cambriana, quando as temperaturas eram cerca de 10oC maiores do que no presente. As algas e as bactérias, as primeiras formas de vida, apareceram há aproximadamente 3.500 milhões de anos, mas seus fósseis forneceram pouca evidência das mudanças climáticas. Tudo que sabemos é que em algum tempo entre 2.700 e 1.800 milhões de anos atrás, geleiras e glaciais eram amplamente distribuídos. Até então a Terra ficou livre de geleiras e glaciais por cerca de 800 milhões de anos.
         O período Pré-cambriano final (final do proterozóico) começou há aproximadamente 1.000 milhão de anos e incluiu 3 episódios glaciais distintos, cada um durando cerca de 100 milhões de anos. Ainda não é claro aonde esses eventos ocorreram e o quão espalhados eles foram, mas não existem dúvidas que eles foram os maiores eventos climáticos.
            Seguindo a Era Pré-cambriana, o clima se aqueceu apreciavelmente e permaneceu relativamente quente pela maior parte dos 300 milhões de anos seguintes. Esta era, de 570 a 245 milhões de anos atrás, é conhecida como a Era Paleozóica. Evidências de um breve período glacial há aproximadamente 450 milhões de anos pode ser encontrado nas formações rochosas do Sahara (e da Bacia do Paraná).
            Durante o período seguinte, o Carbonífero, as temperaturas caíram, culminando na longa glaciação Permo-carbonífera de 330 a 245 milhões de anos atrás. As glaciações parecem ter ocorrido no sul da África, América do Sul e Austrália. Esta época gelada coincidiu com a formação do supercontinente Pangea, quando todas as massas de terra do planeta  estavam unidas e estendendidas de polo a polo. O que é hoje a Antártica, Austrália e Índia estavam localizadas em altas latitudes, próximo ao Polo Sul e formavam um centro de glaciação.
            Durante a Era Mesozóica, de 245 a 65 milhões de anos atrás, Pangea dividiu-se em 2 enormes massas de terra, uma setentrional, denominada Laurásia e outra austral, Gondwana. A América do Norte e a Europa estavam unidas, assim como América do Sul e África, de forma que o Oceano Atlântico ainda não existia. A África ainda não tinha se unido à Europa , a Índia era uma grande ilha nas latitudes médias do HS, e um raso mar tropical, chamado de Tétis se estendia da América Central até a Indochina. A Austrália estava em latitudes médias e altas e ainda ligada à Antártica. O clima era geralmente quente, com relativamente pouca diferença nas temperaturas entre os polos e os trópicos – esta era a Era dos dinossauros. Existe evidência de alguma flutuação no clima através desta Era, e parece ter ocorrido um breve resfriamento no final da Era que coincidiu com a extinção em massa dos dinossauros. O nível do mar era aproximadamente 100 metros mais elevado do que atualmente. Esta maior massa de água oceânica inundou aproximadamente 20% de áreas continentais que estão agora sobre água, incluindo porções oeste da Europa, norte da África, e Norte da América do Norte.
            O cenozóico cobre os últimos 65 milhões de anos da história da Terra. Esta Era envolveu um resfriamento de longo termo, contudo não foi um declínio suave: períodos longos, relativamente estáveis foram intercalados com períodos mais rápidos, sendo os maiores eventos de resfriamento há aproximadamente 50 e 38 milhões de anos. Do resfriamento posterior, há aproximadamente 15 milhões de anos resultou a formação de montanhas glaciais no hemisfério norte  assim como as geleiras da Antártica.
Há aproximadamente 50 milhões de anos, os continentes começaram a se afastar da Antártica. A América do Sul e Austrália moveram-se para o norte, desde a Antártica até suas posições presentes, como resultado do movimento das placas continentais. À medida que o estrito de Drake, entre a América do Sul e a Antártica, foi aberto, a circulação oceânica sul tornou-se circumpolar, e as temperaturas da superfície e de águas profundas se resfriaram gradualmente (mais do que 10oC).  As geleiras da Antártica se desenvolveram sobre este período e uma banquisa de gelo no leste da Antártica se formou há aproximadamente 14 milhões de anos. O pólen dos testemunhos oceânicos mostra que florestas temperadas existiram na Antártica há 20 milhões de anos. O volume de gelo Antártico aumentou, alcançando seu valor presente há aproximadamente 5 milhões de anos, e as atuais banquisas de gelo do HN surgiram há aproximadamente 3 milhões de anos. A tendência geral nos últimos 50-100 milhões de anos foi de resfriamento do clima desde o quente Cretáceo até os dias atuais.
            O segundo período da Era Cenozóica é o Quaternário, iniciado há aproximadamente 1,6 milhões de anos, incluindo o tempo presente, durante o qual o Homo sapiens se desenvolveu. Este período começou com o Época do Pleistoceno durante a qual ocorreram 7 glaciações, com mais do que 32% da Terra coberta por gelo. Essas idades do gelo ocorreram grosseiramente a cada 100.000 anos e foram intercaladas com curtos interglaciais quentes.
            O período glacial mais recente alcançou seu pico há aproximadamente 18.000 anos. Geleiras superiores a 3 km de espessura cobriram a maior parte da América do Norte e toda a Escandinávia, e estenderam-se para o norte das Ilhas Britânicas e nos Urais. No hemisfério sul, a maior parte da Nova Zelândia e Argentina ficou sob o gelo. Depois, há aproximadamente 12.000 anos, um dramático aquecimento começou e há 7.000 anos as geleiras da América do Norte e Escandinávia derreteram. À medida que os níveis dos mares subiram, as linhas costeiras dos continentes gradualmente assumiram suas presentes formas.
            Nós estamos vivendo atualmente na Época do Holoceno, um período quente que começou há 10.000 anos atrás. Mas não estamos certos se as glaciações periódicas cessaram ou se estamos num período interglacial que terminará em outra idade do gelo.

O clima dos últimos 20.000 anos
            Diversos tipos de evidências geológicas indicaram que os climas passados da Terra flutuaram entre glaciações e períodos livres de gelo. Vamos começar nosso estudo analisando o caso mais recente de grande mudança climática (o último máximo glacial). Este período (14.000–22.000 anos atrás) pode ser dividido nas fases de degelo (aproximadamente 10.000–14.000 anos atrás), e do presente Holoceno interglacial (0-10.000 anos atrás).
            O último máximo glacial estendeu-se de aproximadamente 22.000 a 14.000 anos atrás. A glaciação tem sido chamada de Wisconsin, Weichselian, ou Wurm, dependendo da região aonde é referida, América do Norte, oeste da Europa ou Alpes. A reconstrução dos eventos tem sido grandemente ajudada pela datação com radiocarbono, que tem uma precisão de 1000–2000 anos na maior parte do período estudado.

Mudanças na cobertura de neve e gelo
            Os aspectos mais dramáticos do último máximo glacial foram as grandes geleiras. Apesar da cobertura de gelo ter aumentado em muitas áreas, as maiores acumulações foram no leste da América do Norte (Laurentide)  e no noroeste da Europa  (Fennoscandian = Finlândia + Escandinávia). A espessura das geleiras Laurentide e Fennoscandian é da ordem de 3500–4000 m. Suas formações requereram evaporação de 50–60 x 106 km3 de água dos oceanos. A melhor estimativa para o consequente rebaixamento do nível do mar é de 121 ± 5 m. Aproximadamente 1/2 ou 2/3 do volume global do gelo foi usado na formação da enorme geleira de Laurentide. Ela se estendeu desde as Montanhas Rochosas até a costa do Atlântico e do Oceano Ártico para o sul, até as posições presentes dos rios Missouri e Ohio. Na Europa a geleira Fennoscandian alcançou o norte da Alemanha e a Holanda.


A figura acima representa a distribuição de gelo no hemisfério norte (terra e oceano) para janeiro há 18.000 anos.

No Hemisfério Norte as grandes mudanças na cobertura de gelo sobre terra ocorreram paralelamente às grandes mudanças sobre o oceano. Frentes polares oceânicas e gelo oceânico migraram para o equador em ambos os hemisférios. Algumas das modificações mais dramáticas ocorreram no Atlântico Norte. Atualmente, o nordeste do Atlântico está pelo menos sazonalmente, livre de gelo até 78ºN, no Mar da Noruega. Esta condição reflete a advecção da corrente quente Norte Atlântica para a região. Durante a última idade do gelo, a frente polar oceânica migrou até aproximadamente 45ºN. Ao norte desta latitude, o oceano era coberto principalmente por gelo marinho durante o inverno. Esta configuração resultou numa região da superfície da Terra (120ºW a 90ºE, norte de 45-50ºN) coberta ambos por gelo e tundra.

            Virtualmente, há 18.000 anos todas as regiões do mundo capazes de suportar testemunhos de cobertura de neve expandiram suas coberturas de gelo. Nos trópicos, montanhas glaciais foram formadas ou expandidas na Nova Guiné, Havaí, leste da África e nos Andes. Essas mudanças, junto com a redução nos limites da linha de neve de aproximadamente 1000 m e variações no pólen, são consistentes com uma depressão térmica de 5–6ºC em elevações superiores a 2000 m.

A figura acima ilustra p diagrama esquemático da variação da vegetação no Quaternário final em (a) montanhas do leste africano e (b) regiões altas da Nova Guiné. Nota-se o rebaixamento de aproximadamente 1 km das linhas de neve e das zonas de vegetação.
No Hemisfério Sul a glaciação foi aproximadamente síncrona com o Hemisfério Norte. Os glaciais se expandiram no sul dos Andes e na Nova Zelândia. Aspectos periglaciais (ambientes típicos de margens glaciais) ocorrem em elevações inferiores do sudeste da Austrália. Na Antártica a geleira Antártica Oeste deve ter aumentado de volume. Atualmente esta camada de gelo é restringida pela proximidade do oceano; o nível do mar mais baixo deve ter permitido uma significante expansão. Há 18.000 anos as elevações do interior da camada de gelo Antártica Leste foram aproximadamente 400-500 m maiores do que no presente.
Ocorreram também grandes modificações na cobertura de gelo do mar Antártico. Atualmente a cobertura de gelo marinho no inverno no Oceano Sul (Mar Antártico) é aproximadamente igual à quantidade de gelo na Antártica (~15 X 106 km2). Há 18.000 anos o gelo marinho representava aproximadamente o dobro da cobertura de gelo da Antártica.

Mudanças adicionais da temperatura nas altas e médias latitudes
Numerosos registros indicam grandes mudanças do clima nas áreas que fazem fronteiras com as camadas de gelo. Na América do Norte e Europa a tundra se estendeu para o sul a partir das margens do gelo, com a extensão geográfica muito maior no oeste da Europa do que na América do Norte  (algumas partes dos depósitos de tundra não são bem datados mas é razoável assumir que elas refletem condições inteiramente glaciais). Na América do Norte, a fina faixa de tundra foi substituída ao sul por uma floresta boreal de pinheiros espruce. Ao sul de 35ºN, florestas de carvalho, vegetação local de pradaria, e baixos níveis de rios davam uma visão da aridez global da idade do gelo. O limite de 34ºN tem sido interpretado como a posição média da frente polar, que hoje é localizada aproximadamente 1200 km ao norte, no sul do Canadá. Nas regiões ao sul da geleira de Laurentide, existem combinações de mamíferos (elementos frios e quentes) que não ocorrem no presente.

A figura acima ilustra o mapa esquemático dos padrões inferidos de vegetação na Europa durante o último máximo glacial.

Na Europa, desertos polares devem ter coberto a maior parte da área entre a margem sul da geleira de Fennoscandian e a margem norte dos glaciais alpinos expandidos. Esta região foi povoada por vertebrados típicos do Ártico tais como veados, mamutes e raposas do Ártico. Mais a leste, depósitos eólicos soprados pelo vento (loess), típicos de condições secas e frias das estepes, se estenderam das planícies ao leste europeu através da Eurásia até a China central. Como as mudanças no nível médio do mar expuseram o estreito de Bhering, o cinturão de estepe deve ter continuado através da Sibéria até o Alaska. Apesar das condições severas, o corredor Sibéria-Alaska (Beringia) é notável por seus grandes números de fósseis de grandes vertebrados (mamutes, bisões (búfalo norte-americano), veados, cavalos). Existe evidência que o homem primitivo caçou essas populações durante sua migração para a América do Norte. Uma variedade de índices paleoclimáticos tem sido usada para estimar mudanças de temperatura sobre terra. Apesar de existirem algumas mudanças nos resultados, as estimativas geralmente sugerem que nas latitudes médias as temperaturas reduziram-se aproximadamente 10°C (média anual) nas regiões próximo as geleiras Laurentide e Fennoscandian. Mudanças nas temperaturas ao sul da geleira de Laurentide podem ter sido mais severas no inverno do que no verão, um aspecto que talvez reflita as intrusões de ar polar das geleiras.  Estima-se que as temperaturas de inverno no Tennessee, Carolina do Sul e no noroeste da Europa eram 15-20°C mais frias do que no presente. Exceto para a China central (10°C), estimativas de decréscimo de temperatura são da faixa de 5-8°C para um grande número de áreas terrestres nas latitudes médias, como por exemplo o oeste dos Estados Unidos, sudeste da Austrália, Nova Zelândia e Chile. Estimativas de decréscimo de temperatura para regiões no oeste da América do Norte afetadas por massas de ar marítimo são da ordem de 4-5°C.

Mudanças na Precipitação
Com poucas exceções, a maior parte do planeta parece ter sido seca durante a última idade do gelo. Padrões de precipitação variaram por cinturão de latitude. Nas altas latitudes, mudanças da taxa de acumulação nos núcleos de gelo da Groenlândia e Antártica sugerem que a  precipitação decresceu aproximadamente 50% nas regiões polares. 
As condições eram úmidas em algumas regiões terrestres das latitudes médias afetadas pelos oestes deslocados equatorialmente e sistemas de baixa pressão que se formam neste cinturão. Extensivos lagos desenvolveram-se na “Great Basin” do oeste da América do Norte e Rússia Européia. A proximidade das camadas de gelo podem ter contribuído para a formação desses lagos por uma combinação de temperaturas do ar inferiores  (implicando menor evaporação), algum aumento de precipitação, e/ou água de degelo glacial/ bloqueio físico de sistemas de drenagem. Uma combinação de aumento de precipitação (cerca de 2.4 vezes) e declínio de temperatura (5-7°C) pode explicar algumas mudanças no nível dos lagos no Pleistoceno no oeste dos Estados Unidos. Contudo, como existe um número de incertezas nesses cálculos, estas estimativas devem ser tratadas com cautela.

A figura acima ilustra o mapa global dos níveis dos lagos há 18.000 anos.

O clima foi relativamente úmido no noroeste da África, no “Middle East”, no sul da Austrália, e no sul da América do Sul. Essas regiões, presentemente nas margens polares dos cinturões áridos subtropicais, se beneficiaram dos deslocamentos dos sistemas de baixa pressão das latitudes médias para o equador, que poderiam presumivelmente se deslocar ao longo da fronteira do gradiente máximo de temperatura (margens do mar de gelo) em ambos os hemisférios.
O aumento total na aridez à superfície há 18.000 anos é consistente com um aumento nas concentrações de poeiras atmosféricas, como registrado nos núcleos de gelo da Groenlândia e Antártica e aumentos nos sedimentos eólicos soprados pelo vento nos núcleos do mar profundo equatorial Atlântico. A aridez da Idade do Gelo é também consistente com uma maciça transferência de carbono dos reservatórios terrestres para os marinhos. A transferência de carbono glacial-interglacial é aproximadamente equivalente a aproximadamente 1/4 a 1/3 da quantidade total de carbono armazenado nas plantas, solos e na plataforma continental, isto é, aproximadamente 0.5-0.7 x 1018 g de carbono. Como resultado do aumento da aridez e extensão do gelo, o albedo da superfície (verão) aumentou de 0.14 para 0.22.


A idade do gelo nos trópicos
Além da evidência de rebaixamento do limite de acumulação de neve nas montanhas tropicais, ocorreram também mudanças no clima nas regiões baixas. Nosso conhecimento sobre mudanças na precipitação é melhor do que sobre mudanças na temperatura. Estimativas esparsas da última são de aproximadamente 4-5°C. 
Existe uma evidência moderadamente boa de que as regiões baixas tropicais foram mais secas durante o último máximo glacial. Os níveis dos rios na África tropical e América Central eram muito baixos, com níveis de água em alguns dos maiores lagos do leste africano 250-500 m abaixo dos níveis presentes. Dunas de areia expandiram-se no sub-Sahara e América Central. Tem sido sugerido que a floresta Amazônica pode ter sido reduzida a poucos refúgios (regiões localizadas de precipitação mais elevada). Esta hipótese é baseada em observações biológicas das variações geográficas presentes na diversidade de vários tipos de biota da Bacia Amazônica, ex. angiospermas (plantas com flores) e borboletas. As ilhas de alta diversidade podem refletir regiões mais úmidas, enquanto regiões de baixa diversidade têm sido interpretadas como savanas. 

A figura acima ilustra áreas de refúgio propostas para certas espécies de (a) angiospermas e (b) borboletas na Bacia Amazônica durante as fases do clima seco no Pleistoceno.


Inferências sobre a história do clima tropical  podem ser consideradas suspeitas devido à escassez de boas localizações de regiões de baixadas. Dada às limitações da amostra, existe uma razoável quantidade de evidências do decréscimo da precipitação tropical. Por exemplo, existem acentuadas concentrações de feldspato e argila mineral ilita (argilomineral) nos sedimentos do fundo do mar, originários dos rios Amazonas e Zaire (Congo). Feldspato e ilita são normalmente alterados sob condições úmidas; então sua preservação sugere condições mais secas. Pólen, esporos e fluxos de diatomácia nos sedimentos do rio Zaire também indicam condições secas.
Similarmente, registros de pólen de regiões baixas nas Américas Central e do Sul suportam interpretações de condições mais secas. Um aumento geral de evaporação líquida (nível do mar mais rebaixado) tem sido ligado a salinidades significantemente mais altas em alguns mares marginais (mares Mediterrâneo e Vermelho). Aumentos de salinidade estimadas para os mares Mediterrâneo e Vermelho são 1-3 e 10%, respectivamente. As condições hipersalinas no Mar Vermelho provavelmente aproximaram a tolerância limite dos organismos planktônicos.

Mudanças na temperatura da superfície do oceano
Em regiões afetadas pelas migrações de gelo marinho e frentes oceânicas polares, a temperatura da superfície do mar (TSM) decresceu cerca de 6-10°C. Condições frias algumas vezes se estenderam nas regiões lestes dos oceanos equatoriais e provavelmente refletem, em parte, um aumento da ressurgência ao longo do equador.
Sobre grandes partes dos oceanos tropicais restantes, mudanças de TSM foram aparentemente muito menores – apenas 1-2°C. Na maior parte das áreas, esta zona de TSM estável se estendeu em direção ao polo até 40° de latitude. Como as condições tropicais não mudaram muito e as condições polares mudaram grandemente, existiu uma compactação dos “espaços de vida” nas regiões de transição. O decréscimo de TSM globalmente mediado foi de aproximadamente 1.6°C.
Muito menos é conhecido sobre variações na salinidade durante o último máximo glacial. Salinidades a superfície foram provavelmente inferiores na área de deslocamento das frentes polares. Salinidades aumentaram nas bacias marginais dos mares Mediterrâneo e Vermelho. Diferenças presentes nas salinidades entre o Atlântico Norte e o Pacífico Norte foram acentuadas de aproximadamente 50%, com salinidades nas  baixas latitudes do Atlântico aumentando de talvez 1.0%.

O Degelo - estrutura temporal do degelo
O derretimento das grandes geleiras representa um dos mais rápidos e extremos exemplos de mudança climática verificados no registro geológico. Apesar de remanescentes residuais das geleiras de Laurentide terem durado até 6000-7000 anos atrás, a maior parte do gelo desapareceu dentro de um intervalo de aproximadamente 5000 anos (14.000-9000 anos atrás).

Estrutura temporal do degelo
Apesar da maior parte do degelo ter sido iniciado há aproximadamente 13.000-14.000 anos, existe alguma evidência de um derretimento anterior na Antártica e no norte do Mar da Noruega. O intervalo de tempo de 16.000-13.000 anos atrás é algumas vezes denominado de “Glacial Final” e é a época de máxima aridez nos lagos africanos. Alguns registros no Pacífico datados com 14a.C sugerem produção esporádica de águas profundas no Pacífico Norte durante o período de transição inicial.
Existe considerável estrutura para o padrão de degelo após ~13.000 anos atrás. Isto ocorreu em 2 etapas principais: um aquecimento abrupto (~13.000 anos atrás), seguido de um reverso climático há aproximadamente 11.000 anos (denominado de “Younger Dryas” na Europa), e então outro aquecimento abrupto (~10.000 anos atrás). Uma terceira etapa pode ter ocorrido há aproximadamente 8.000 anos, marcando o final da saída da geleira de  Laurentide do Estreito de Hudson e Baía de Hudson. As duas primeiras tendências de aquecimento são também manifestadas como rápidas mudanças no nível do mar.

O Holoceno - Mudanças na temperatura
Apesar dos remanescentes da geleira de Laurentide não terem desaparecido até aproximadamente 7.000 anos atrás, o Holoceno inicial (aproximadamente 4.500-10.000 anos atrás) tem sido considerado mais quente do que os últimos 4500 anos.
As conclusões sobre o aquecimento do  Holoceno inicial são baseadas em várias linhas de evidência – deslocamentos latitudinais das zonas de vegetação no leste da América do Norte e oeste da Europa e deslocamentos verticais de vegetação e/ou glaciais montanhosos no oeste da América do Norte, Europa Alpina e Nova Guiné. Um exemplo particularmente dramático envolve um pulso do aquecimento do Holoceno no norte do Canadá em torno de 9.000 anos atrás. Vários sítios nas latitudes médias e altas do Hemisfério Sul também registraram condições mais quentes durante o Holoceno inicial.
Estimativas quantitativas das mudanças de temperatura no Holoceno são disponíveis para algumas regiões. No meio-oeste dos EUA, temperaturas  médias anuais do Holoceno inicial foram aproximadamente 2oC mais quentes do que no presente, com a maior parte das mudanças devido ao aumento do aquecimento no verão. As temperaturas no verão também aumentaram cerca de 2°C na Europa. A migração vertical sugere aquecimento de cerca de 2°C na Nova Guiné, 4°C nos Alpes e aproximadamente 1oC no oeste dos EUA. As temperaturas foram 0.5-1.0°C mais quentes do que no presente no sul da Ilha da Georgia (54°S) e na Antártica.
Sobre o oceano existe menos informação sobre diferenças entre o Holoceno inicial e final. Existem 2 razões para isso. As taxas de sedimentação de muitos núcleos em mar profundo são suficientemente baixas, impedindo algumas vezes a discriminação temporal confiável. Além disso, técnicas de testemunhagem usadas para recuperar sedimentos em mar profundo muito frequentemente perdem os primeiros 20-30 cm do testemunho – um intervalo que compreende o Holoceno final.
Existe informação suficiente dos núcleos de mar profundo para descrever as seguintes conclusões sobre diferenças entre o Holoceno inicial e final. Deslocamentos da fauna no sul das regiões polares indicam que águas aquecidas penetram em latitudes mais altas no Holoceno inicial. A evidência para maior aquecimento no Holoceno inicial é muito mais ambíguo no Atlântico Norte, uma conclusão que parece ter surgido por diferenças negligenciáveis entre os valores de carbono 18 nos núcleos de gelo da Groenlândia entre o Holoceno final e inicial.
A transição de aproximadamente 3500-4500 anos atrás marca o retorno  dos climas mais frios e mais secos do final do Holoceno. O resfriamento do Holoceno final é algumas vezes denominado Neoglaciação. Desde este período, a circulação no Atlântico Norte tem estado aproximadamente na sua posição presente.

Mudanças na precipitação no Holoceno inicial
A primeira metade do Holoceno foi também marcada por diferenças significantes nos padrões de precipitação. Por exemplo, existiu uma extensão leste da “Península de Pradaria”  nas Grandes Planícies da América do Norte com um decréscimo estimado de 20% na precipitação. O oeste da América do Norte foi também mais seco (um intervalo conhecido como “Altithermal” nesta região).
As mudanças mais pronunciadas nos padrões de precipitação ocorreram no cinturão das monções da África e Ásia. Os níveis dos lagos subiram a um máximo através da maior parte da África, desde o deserto da Namíbia a 26oS até os trópicos norte. Regiões agora bem dentro do hiper árido núcleo do Sahara, indicam condições úmidas e uma virada para o norte do cinturão de chuvas de verão (monção) por pelo menos 600 km. Remanescentes crocodilos, girafas, elefantes gazelas e hipopótamos têm sido encontrados ao longo dos presentemente secos leitos fluviais (wadis). Papyrus, que presentemente é restrito a metade sul do Sudão, estendeu-se 1500 km para o norte, no Egito. A umidade crescente contribuiu para depósitos extensivos de água subterrânea sob o Sahara.
A umidade acentuada no Holoceno inicial, indicativo  de uma monção sudeste mais forte, se estendeu através do leste da Arábia Saudita, Mesopotâmia e na presentemente seca região da Rajastan no noroeste da Índia. Existe evidência também de uma monção mais forte em sedimentos longe da costa. No Mar das Arábias oeste , fora da costa da Arábia Saudita, a fauna do Holoceno inicial indica maior ressurgência, causada por um escoamento sudoeste mais forte (e então acentuado transporte de Ekman das águas superficiais frias para a superfície). No norte da Baia de Bengália (Índia),  uma espécie foraminífera, indicativa de baixa salinidade aumentou em abundância. Este aumento pode ser interpretado em termos de maior escoamento dos rios Ganges e Brahmaputra. Camadas de baixa salinidade superficial no leste dos Mares Mediterrâneo e Vermelho, provavelmente resultantes de acentuada vazão, impediu o transbordamento, levando a sedimentos ricos em matéria orgânica no Mediterrâneo e acumulação de salmoura ricos em metal no Mar Vermelho.

A figura acima ilustra a reconstrução dos níveis dos lagos durante a parte inicial do presente Holoceno interglacial (6.000 anos atrás), mostrando que muitas áreas nos trópicos eram mais úmidas do que no presente.

Mudanças no Carbono 14
Outro aspecto do Holoceno envolve mudanças nos níveis do 14C atmosférico. Sabe-se que existe um desvio secular nos registros do  14C atmosférico. Contudo até recentemente não era possível distinguir satisfatoriamente entre várias hipóteses (desvio geomagnético, mudanças na radiação solar , ou mudanças no clima) que pudessem afetar o reservatório de 14C atmosférico. Por exemplo, a variação das taxas de produção de águas profundas poderia variar as taxas pelas quais a água antiga reduzida do 14C é ressurgida e exposta à atmosfera. Variações no campo geomagnético da Terra podem ser primariamente responsáveis pelas flutuações indicadas na figura abaixo. Esta interpretação é suportada por medições paleomagnéticas diretas. A figura abaixo também mostra as variações de 14C atmosférico nos últimos 10.000 anos.



Composição atmosférica
Além dos altos níveis de poeira, os registros dos núcleos de gelo registram outro aspecto notável da idade do gelo. Estudos com núcleos de gelo na Groenlândia e Antártica indicam concentrações glaciais de CO2 de aproximadamente 200 ppm, aproximadamente 75-80 ppm menos do que o valor pré-industrial estimado de aproximadamente 280 ppm. Concentrações de metano também caíram pela metade. As variações de CO2 podem ser devido a variações na produtividade biológica marinha. Causas para as variações de metano atmosférico não têm sido esclarecidas, mas podem refletir aumento da aridez, já que terras úmidas são importantes fontes de metano. Desde que ambos CO2 e CH4 absorvem radiação infravermelha que é emitida pela terra, mudanças em suas concentrações irão causar uma realimentação climática. A perturbação na forçante radiativa do CO2 é de aproximadamente 1.7 W/m2 e para o metano é de aproximadamente 0.1-0.2 W/m2. Com a realimentação, as mudanças do CO2 passam para 1.5°C nas temperaturas médias globais – aproximadamente 40% do sinal do interglacial. Então as mudanças no CO2 representam uma amplificação muito importante da mudança climática glacial-interglacial. Contudo as variações no metano parecem ser muito pequenas para ter um efeito significante no efeito climático (~0.1-0.2°C).

A figura acima ilustra a concentração de CO2 atmosférico nos testemunhos de gelo em Byrd (Antártica).

Mudanças na circulação atmosférica
Existiram também mudanças na direção e velocidade do vento na idade do gelo. Direções do vento médio mudaram dos presentes sudoestes para noroestes da idade do gelo. A advecção de ar muito frio pelos fortes noroestes podem ter tido um significante efeito nas taxas de evaporação na Corrente do Golfo. A maior quantidade de transferência de calor latente do oceano para a atmosfera presentemente ocorre em  tais regiões, com eventos de escala sinótica associados com enormes fluxos de  cerca de 800-1000 W/m2. Tais valores devem ter sido excedidos no último máximo glacial.
Estudos de índices de ressurgência e material transportado pelo vento em núcleos de mares profundos sugerem aumentos de aproximadamente 20% para os oestes do Pacífico Norte, aproximadamente 30% para os alíseos do Pacífico Norte e 50% para os alíseos do Atlântico Norte. Variações na ressurgência ao longo da corrente do Peru são consistentes com um aumento de 30-50% nos alíseos do Pacífico Sul. Apesar destas mudanças, registros do Atlântico Norte equatorial leste indicam que os cinturões de vento não mudam latitudinalmente com velocidades acentuadas.
Núcleos de gelo também registram informação sobre mudanças nos ventos na idade do gelo. As estimativas são baseadas nas medições de concentrações de cloreto nos núcleos. O cloreto origina-se como um sal marinho atmosférico. A concentração de sal marinho sobre o oceano é uma função da altura acima da superfície do mar e da velocidade dos ventos (quanto mais fortes os ventos, maior a concentração de sal marinho).
Variados conjuntos de dados consistentemente indicaram que as velocidades do vento global a superfície pode ter aumentado de 20 para 50% e talvez mais. Tais mudanças nessa forçante podem ter exercido um forte efeito na circulação oceânica. Os ventos mais fortes podem ter também afetado a formação de gelo marinho. Por exemplo, vento mais fortes no Oceano Sul podem ter causado um aumento da perda de calor oceânico para a atmosfera de cerca de 100 W/m2.